segunda-feira, 4 de maio de 2015

Sinfonia dos Aflitos. Capítulo 6: Insanidade na escola infantil.

            Ajoelhado no chão de cimento manchado de vermelho, se encontrava o homem, indefeso, boquiaberto. Seu olhar de lamentação era penetrante, quase conseguia ver o interior da criança em seus braços. A menina imóvel não reagia as gotas que acertavam-na com tudo direto na face. Os olhos embriagados em tristeza de Eric giraram, e sua cabeça caiu para trás, o corpo de Rachel bateu em seu peito. Tudo era escuridão.

            - Não... - Observava o céu fechado em nuvens cinza escuro, nenhuma estrela ou brilho transpassava a força da chuva. Gotas castigavam seu corpo, e lavavam as manchas e sujeiras acumuladas por todo o dia. - Por que comigo? - Indagou aos céus, esperou por alguns segundos a resposta. Nada.

            Voltou a ficar de joelhos, se esforçando para levantar a menina, tentou deixá-la de pé. O sangue manchava a lateral do corpo de Rachel, um rasgo feito em sua roupa alaranjada. Com calma, levantou a camisa da criança, procurando o ferimento. Gotejava sangue por entre o rasgo no corpo de Rachel, um simples corte perto de uma perfuração verdadeira de bala. O coração do homem foi apertado pelo mais forte sentimento de todos. A esperança. Olhou uma segunda vez mais de perto, procurando verificar se realmente estava vendo direito. O tiro havia passado de raspão pela lateral do corpo da menina, arrancara uma pequena parte por onde a bala passara, mais não foi alojada, e nem ao menos foi um ferimento para matar a pequenina.

            - Rachel, Rachel! - Balançou a menina com firmeza. Nada. Provavelmente o impacto e o ferimento fizeram a menina entrar em estado de choque, desmaiando assim que sentiu a dor em seu corpo, junto ao barulho de uma arma de fogo sendo disparada. A mente da menina provavelmente associara que deveria desmaiar. Afinal, era muita pressão em um momento só. Quase ser pega por um caminhante, e logo depois ser alvo de uma bala. - Droga... O ferimento. - Agarrou a parte de baixo de sua camisa, e então a mordeu, arrancando uma grande tira de pano. Pressionou contra o ferimento, tentando parar a hemorragia. Arrancou mais uma parte, deixando sua barriga a mostra, uma barriga ofegante. Amarrou o pano contra o ferimento, e pegou a menina no colo.
            - Hora de sairmos daqui. - Andou em direção a grade, olhando uma ultima vez para a creche. Ao longe, viu o reflexo no vidro de alguém parado "Lancey...". Pensou enfurecido. Ao perceber que estava sendo observado a sombra desaparecera rapidamente. Mais uma vez seu coração bombardeou adrenalina, e a imagem de sua filha sendo trancada para fora, atacada, e alvejada o fez ferver em fúria. Virou-se de imediato em direção a creche.

            - Isso não acabou Lancey... - Proclamou. - Estou indo te pegar! - Prometeu com o olhar fixo na janela.

            Procurou onde deixar a menina. Um cone de cimento, pintado de vermelho, para as crianças brincarem no seu interior. Deitou a menina com calma, procurando deixá-la virada para não machucá-la mais. O cone protegeria sua filha da chuva. Procurou no pátio qualquer coisa que pudesse lhe trazer perigo. Nada. Virou-se em direção aos cadáveres ainda a pouco eliminados. Revirou o corpo do rapaz, olhando constantemente para a porta da creche. Para sua surpresa, uma faca de cozinha pequena estava no bolso lateral esquerdo do rapaz. Pegou-a e então virou-se para a menina. Revirou seu corpo duas vezes, mais não achara nada de util. Pensou por um instante, que talvez se tivesse feito o mesmo a algum tempo, já teria muitas coisas para usar em sua defesa. - Idiota. - Disse balançando a cabeça.

            Sabia do risco que estava correndo, mais era um leão protegendo sua cria. Seu sangue pulsava rápido, e seu cérebro não respondia com a mesma facilidade. Estava completamente tomado pela vontade de ferir algo. Levantou-se e andou em direção a porta. Olhando uma ultima vez pelo vidro, viu uma sombra correr para a direita. Sem pensar uma segunda vez, bateu com força seu pé contra a porta. Porém, não estava em filmes que com um único chute alguém derruba uma porta inteira. Uma segunda vez bateu o pé contra a porta. Uma terceira. A porta da creche era realmente muito pesada, e nem ao menos se mexia. Procurou alguma coisa no pátio, e achara uma pedra pequena, de mais ou menos três centímetros. Rapidamente a atirou em direção ao vidro, que apenas rachou de leve onde acertara. Inquieto, e com o desespero tomando sua mente, virou-se na direção dos corpos. Abraçou o corpo gelado da garota, que era o corpo mais leve. Com esforço, apertou os passos para ir mais rápido na direção do vidro, então, com um impulso anormal, atirou a menina contra a vidraça. O barulho do vidro partindo e caindo no chão abafou o som do cadáver. A não ser quando ele rolou e acertou uma bancada, derrubando algumas coisas.

            - Lancey... - Falou suavemente. - Lancey... - Uma segunda vez. - Estou indo te buscar. - Caminhou com cautela em direção a janela. Alguns pedaços do vidro ainda estavam presos, ignorou. Olhou o interior do lugar, e antes de pensar já estava lá dentro, pisando nos cacos espalhados pelo chão. Seu olhar insano meio a escuridão daria medo em qualquer um. O punho tão apertado no cabo da faca, mostrava seu músculo enrijecido. Caminhou alguns passos em direção ao balcão a frente, o único som no ambiente era o barulho do vidro sendo amassado. Olhou rapidamente atrás do balcão com sua faca pronta para desferir um golpe. Nada. Levantou a tampa, adentrou o lugar, olhando de relance o corpo caído no chão. De fato, não havia nada. Aquele lugar não tinha uma porta, pois servira apenas para uma funcionaria observar as crianças no pátio. Justamente, ficava frente a janela larga. Voltou calmo para onde estava antes. O corredor a sua direita era largo e extenso. Nenhuma porta ali, apenas um corredor que dobrava a esquerda.

            - Onde está quem você está protegendo Lancey? - Indagou. - Jenny, não é? - Sorriu de canto. - Seria uma grande pena se eu a achasse, não é? - Provocou. - Que tal brincarmos de gato e rato? Você tem algo do qual eu quero Lancey... - Começou a andar de vagar, o vidro foi esmagado, e logo parou ao sair de perto da janela. O silencio foi total. Ao chegar na curva do corredor, parou, com cautela colocou metade de seu rosto para observar. Um pequeno corredor com duas portas, uma de cada lado da parede. Lembrou de quando vinha a reuniões com sua esposa. "Onde você deve estar?", lembrou que havia deixado-a "viva". Lembrou que havia apenas duas salas de aula no lugar, e no final do corredor, mais uma curva a esquerda. Lá, um balcão com a porta da secretaria atrás. - Deve ser lá que ele está. - Sussurrou para si. Seus passos eram leves, e seu corpo estava espremido contra a parede esquerda, observando atentamente adiante. Chegou a primeira porta. Com força, bateu sua mão desarmada contra a porta, ainda com seu corpo colado na lateral, o barulho ecoou. A porta rangeu e abriu, porém, nenhuma reação do seu interior. Olhou rapidamente para dentro, e conseguiu ver algumas mesas e cadeiras espalhadas. Aparentemente nada em seu interior. Atravesso-a rapidamente, com medo de algo inesperado. Dentro da sala, parou observando com mais cautela. De fato, nada havia ali dentro.

            - Inferno... - Saiu de vagar da sala, e começou a caminhar em direção a próxima. De vagar, chegou ao lado da porta. Ela possuía uma janela quadrada no topo. Levantou a mão para abri-la, porém, no mesmo momento, escutou um tilintar de metal no final do corredor; Seus olhos frios e seu sorriso fino de canto olharam estáticos. Caminhou lentamente em direção ao final do corredor.

            - Lancey... Acho que te achei. - Ao virar de vagar uma sombra surgiu rapidamente em sua direção, e seu corpo com força foi jogado contra a parede, batendo com força a cabeça.  - Droga. - Colocou sua mão esquerda no topo da cabeça, e tudo girou por alguns instantes. A sombra não estava mais a sua frente. Acordou da dor de supetão. - Maldito! Onde está? - Indagou olhando freneticamente para os lados. Levantou com calma, e ao longe, escutou o barulho de vidro se partindo. - Não... - Sentiu um grande calafrio no corpo, seu coração acelerou. - MALDITO, SE ESTIVER INDO ATRÁS DELA EU TE MATO! JURO! EU TE MATO! - Começou a correr, porém, ao passar pela porta não aberta, um barulho estranho chamou sua atenção. Parou de imediato, ouvindo com mais atenção.
Cof...Cof...

            Caminhou em direção da porta em fúria, e então abriu-a rapidamente. A sala estava tão mal iluminada quanto a anterior, porém, no centro dela, as mesas e cadeiras haviam sido afastadas. E no centro, uma pessoa estava deitada sobre a mesa maior do professor, tossindo sem parar. Uma garota, jovem, de cabelo loiro, seu corpo estava suando quando encostou nele. Estava tão quente quanto uma queimadura de sol. - Jenny? - Fez uma careta. Olhou o rosto da menina, era bonita. Andou até o outro lado, procurando o garoto, porém, não estava ali. - LANCEY! - Ouviu passos frenéticos no corredor, e o garoto apareceu com sua arma apontada para ele. No mesmo instante, Eric abraçou a garota com sua faca no pescoço dela.

            - Não... Seu desgraçado. Solta ela agora! - Disse Lancey desesperado. - Filho da puta! Se machucar ela eu vou matar você também. Sua filha... Eu não fiz por mal, me desesperei. - Seu rosto no escuro demonstrava pânico. Eric permaneceu em silencio. - Vamos, diga alguma coisa droga!

            - Você tem algo que eu quero, e eu só preciso disso. - Falou sereno. - Vamos, você sabe o que é. - A mão tremula do garoto abaixou a arma, então colocou-a no chão. - Isso... Vamos. - Com seu pé direito, o garoto empurrou a pistola na direção de Eric.

            - Vamos seu desgraçado, solte ela. Agora! - A preocupação era visível no rosto do rapaz. - Já tem o que você quer.

            - Não... - Agachou de vagar, ainda segurando Jenny. - Ainda não. - Apalpou o chão a procura da arma, então, agarrou-a a com firmeza. - Precisamos resolver algo. - Sem saber o que estava dizendo, o garoto permaneceu quieto, observando tudo. Eric soltou a menina contra a mesa, então se afastou alguns passos. - Vamos, veja se ela esta bem, ela parece muito mal. - Observou Eric por alguns segundos sem entender. Lancey então caminhou em direção a menina. Eric viu o rosto do rapaz feliz e sorrindo de canto ao caminhar contra a mesa, estava aliviado que nada havia acontecido.
Eric levantou a pistola em direção a Lancey. - Pronto...

BANG!!!

            O corpo do garoto se manchou de vermelho. O barulho do disparo percorreu os corredores. Lancey olhou para baixo, e viu seu corpo salpicado de sangue. Não sentia dor. Olhou para Eric, o rosto do encanador estava coberto pela escuridão. Fumaça ainda saia da arma como chaminé. Olhou para baixo, e viu o rosto de Jenny jogado para o lado, com sangue escorrendo do mesmo, um grande buraco havia sido feito na lateral direita de sua cabeça. A tossi havia parado. O remédio? Miolos espalhados.

            - NÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃO! - Gritou observando o semblante do encanador, então pulou em direção a Jenny, abraçando-a com força. Lagrimas escorriam de seu rosto, saliva escorria de sua boca ao chorar de forma desesperadora. O encanador caminhou em sua direção, parou atrás do rapaz, virado para a porta.

            - Agora você sabe o que é perder alguém... Isso... É o que queria. - Disse da forma mais fria que conseguiu. Então saiu.

            Ao atravessar a porta, viu pelo canto de olho Lancey com a garota em seus braços, enquanto sangue pingava pelo chão. Olhou para o corredor, e viu que no final, onde estava a porta principal, um grande numero de zumbis se aglomerava. Batiam na janela com paciência, buscando entrar e se deliciar com sua carne. Pensou por alguns instantes no porque deixar o garoto vivo. Afinal de contas, havia quase matado sua filha amada. Virou e apontou a arma. Pausou. "Esse filho da puta merece mais...", Virou e então atirou contra a vidraça, onde estavam os Zumbis. O tiro acertou um deles ao atravessar o vidro. Então, todos começaram a entrar no lugar, era um aglomerado de pelo menos trinta deles, atraídos pelos gritos e disparos feito ali.

            - Até nunca mais Lancey... - Olhou para o rapaz, notou que tinha mais ou menos a idade de seu filho. Mas não era seu filho. Começou a caminhar em passos rápidos de volta a onde a pequena Rachel estava. Virou o corredor, porém, observou uma ultima vez o ambiente. Os caminhantes andavam em sua direção.

            - DESGRAÇADO! EU VOU TE BUSCAR NO INFERNO! - Gritou Lancey ao sair na porta, buscando o encanador, porém, o que viu, foram varias faces mutiladas e olhos tão pálidos como a neve, cantavam a sinfonia dos aflitos em coro, como uma abertura para sua ceia. - Não... Droga. SAI!

            Viu-o voltar para dentro da sala de imediato, porém, não conseguira obstruir a entrada antes que conseguissem atravessar. Não ficou para ver, se virou e foi em direção a janela, procurando não fazer qualquer barulho.

            No pátio foi em direção ao local onde havia deixado Rachel. Seu coração se desesperou ao ver que a menina não estava mais ali. Olhou em volta freneticamente, então ouviu uma voz fina ao longe.

            - Papai... - Notou sua filha parada, segurando o machucado. Mais não estava dentro do pátio, estava do outro lado, no final do cercado, com seu rostinho colado contra a grade. - Pensei que tinha me abandonado. Fiquei com medo. - Sorriu, caminhando na direção da menina. Ela havia subido a grade e ficado do outro lado, esperando seu pai.


Desta vez, sem muito esforço, conseguiu subir a grande, e ainda assim, descê-la. Dentro da creche, gritos começaram a surgir, desesperadores. O homem sorriu para sua filha, agachou para beijá-la.
- Que bom que você está bem meu amor.

quarta-feira, 8 de abril de 2015

Sinfonia dos Aflitos, Capítulo 5: A Creche.

            Os olhos do encanador estavam repletos de melancolia, sua mente estava perturbada pela destruição e morte que uma única noite havia trazido. Uma coisa tão infernal estava dissipando gerações de famílias. O inferno que a pequena cidade de New River estava hospedando era inimaginável para aqueles fora da cidade. O próprio encanador se perguntava repetidamente se mais reforços chegariam. "Até quando tudo aquilo iria acontecer?", "Até onde ele suportaria?", "Se aquilo estaria acontecendo apenas em sua cidade?", perguntas e mais perguntas sem respostas.

            Permaneceu parado frente a destruição do cercado. Ao longe conseguia distinguir formas bizarras, escondidas pela escuridão noturna, cadáveres semi comidos, abaixados sobre outros cadáveres ainda por comer. O maldito barulho de mandíbulas se fechando e de carne se soltando da pele, a triste canção solta pela boca dos não-mortos. Sua mente projetava a idéia de correr e correr, com sua filha nos braços. Mais aquela idéia não parecia boa, apesar do momento necessitar de algo rápido. Escutou atrás de si a canção mais tocada da noite, e uma pequena leva de andarilhos se arrastando pelo gramado, alguns ainda de pé - a pesar da queda - se esforçavam para alcançá-los.

- Vamos minha querida, precisamos andar. - Suas palavras foram frias, e o silencio era tão perturbador que preferia ter ouvido qualquer barulho de tiro.

- Papai... - Puxou seu braço, estava com o olhar cansado. - Os homens armados estão mortos? - Torceu a boca incrédula.Para a criança, a imagem de um homem armado, simbolizava a força, e ela não conseguia associar que pessoas moribundas haviam ganhado no cabo de guerra.

- Estão querida. - Puxou-a pelo braço, não com violência, apenas indicando que deveriam partir. - Aparentemente todos estão mortos... - Cochichou para si mesmo.

            Começaram a caminhar pela esquerda do hospital, em direção as ruas novamente. Eric não sabia para onde ir, mais sabia que não poderia ficar parado em campo aberto por muito tempo, logo, todos notariam sua presença. Observou a criança enquanto caminhavam, sua feição amável se tornara sombria pela escuridão. "Temo pela mente dela assim que sairmos desse inferno.", certamente todo aquele pandemônio não seria facilmente esquecido. "Quantos colegas ela deve ter perdido? Alias, quantos eu devo ter perdido?", Um estalo em sua mente clareou o caminho a frente, e começou a notar o caminho que estava seguindo. Logo estariam na escola que era dividida em dois prédios, um grande e um pequeno que servia de "creche". A pergunta que martelava em sua cabeça era, será que alguém acabou tendo o mesmo pensamento? Se esconder dentro de uma creche e esperar tudo aquilo acabar. Quem mais poderia ter pensado nisso?

            Percorreu todo o caminho em silencio, coisa que ainda não estava acostumado. Tudo a sua volta estava completamente silencioso. Tão quieto que ouvia a respiração afobada e acelerada de sua filha, se esforçando para continuar caminhando. Esperava fazer a escolha certa desta vez. Driblou todos os obstáculos, fossem eles carros, corpos caídos, e até mesmo caminhantes espalhados. Estava ficando bom e sorrateiro, apesar de a maioria das vezes ter que carregar sua filha no colo, para não ser notado.

            Finalmente avistou o pequeno prédio no final do quarteirão. Apertou o passo, firme e silencioso na escuridão. A luz noturna não funcionava ali também, e apenas a lua iluminava majestosa no manto estrelado. Uma coisa boa em morar em cidades pequenas, é a falta de criminalidade, e isso resultava em menos portões ou muros entre as residências e os edifícios. Agradecia ao arquiteto por ter feito tão acessível aquele prédio. Um caminho pelo gramado levava direto a entrada da creche, uma porta dupla de vidro intacta. Aliviou-se por isso. Tinha apenas um andar, e muitas janelas. Caminhou calmo pelo gramado macio, sua filha o observava, sempre odiou a escola, desde o primeiro dia. Por isso ficava muitas vezes em casa com a mãe, e quando toda essa doença começou a se espalhar, acabou deixando de ir de vez. Olhou rapidamente pelo vidro da porta, e não conseguiu ver muita coisa. Apenas o balcão de recepção, e algumas cadeiras. Forçou a maçaneta da porta sem êxito. "Já era de se esperar... Novamente as janelas?", andou pela extensão do prédio procurando uma janela aberta, mais algo veio a sua cabeça.

- A porta traseira. - Por que não? A parte traseira do prédio era protegida por uma grade de dois metros e meio, para impedir qualquer tentativa de fuga dos pequeninos. Ao centro diversos brinquedos e mesas. O pátio extenso engolido pela escuridão não parecia tão amável, assim como era a luz do dia. O homem segurou forte a menina contra o peito, e com uma única mão começou a subir a grade. A dificuldade era nítida, os ventos gelados tornaram o cercado tão frio quanto uma lamina. No topo, o homem quase derrubou sua filha, segurando-a pelo braço. O arame produziu um barulho continuo, Eric atento olhou direto para a escola. Esperou alguns instantes, e então começou a descer a assustada Rachel. Pela janela do lugar, uma imagem se projetou, e sem a atenção do encanador, desapareceu subitamente.

- Não gosto daqui papai... - Ela realmente não gostava, e sob a iluminação da lua, o lugar parecia mais assustador do que de costume. Rachel odiava a idéia de ter que brincar com crianças que não conhecia, e a imagem da creche em sua mente, apenas trazia lembranças ruins. - Aquele escorrega me fez machucar aqui! - Apontou para o joelho. - Mika me empurrou ali! - Apontou em direção a uma mesa, próximo a porta traseira.

- Não se preocupe, papai está aqui agora. - Apertou a cabeça da menina contra a perna, onde a mesma abraçou-a. - Vamos ficar bem. - Orava aos céus por isso.

            Seu sapato ecoava no recinto fechado. Frente a porta, o encanador pousou a mão sobre a maçaneta. Com um giro lento, sentiu a tranca da porta ceder e a porta se destrancar. O ranger da mesma ecoou pelo recinto. Rangendo os dentes junto a porta, abrira de vez a entrada do lugar. Sua filha abraçou com força a perna do homem, olhando de canto em direção ao escuro. Com frieza o homem adentrou o lugar, sua filha havia soltado a perna da qual se protegia. Olhando para trás, Eric viu a imagem de Rachel  abraçando os próprios braços em sinal de preocupação.

- Vem filha, esta tudo bem. - Flexionou os joelhos ao se abaixar, estendendo os braços em direção a filha.

- Mais que merda você está fazendo? - Uma voz rasgou o silencio da creche. Uma sombra surgira ao lado de Eric, e a porta se fechara em seguida, produzido um barulho abafado. Um pequeno estalo, mostrou que a porta havia se trancado.

- O QUE? - Eric pulou na direção da porta, tentando abri-la. Olhou para a sombra, e notou um rapaz alto, coberto por uma jaqueta escura e um boné do Arizona Diamondbacks. Seu rosto sombrio esboçava uma indignação sem igual, como se Eric tivesse acabado de fazer algo muito ruim. - Minha filha, ela está lá fora! Abra essa merda!

- Luccas e Beth estão lá fora. - Indagou o rapaz. - Eles não podem entrar, eles nós traíram. Mentiram dizendo que Jenny os atacou... - Balançou a cabeça incrédulo. - Ela nunca atacaria ninguém, está com medo de tudo isso. Apenas tentou se defender! - Apenas agora notou uma grande faca de cozinha em sua mão. Ela tremia enquanto segurava firme a arma. - Ninguém pode entrar aqui, Jenny está com muito medo. Não posso deixar que a peguem. - Deu um passo na direção do encanador.

- Ok! - Levantou as mãos na direção do rapaz; - Qual seu nome? - Indagou.

- Lancey... - Parou de imediato. - Não... ELES VOLTARAM! - Gritou correndo em direção a janela ao lado da porta. - Veja. Eles não param, não importa o quanto eu ataque. Eric correu em direção a janela com seu peito mais frio do que as águas do ártico. Seus olhos aterrorizados viram o semblante de dois caminhantes indo em direção a sua filha, que batia na porta com força, gritando pelo pai. "Papaaaii!!! Socorro... PAPAI!!"

- SEU MALDITO! ABRA ESSA PORTA AGORA! - Pulou na direção de Lancey, balançando o rapaz. - Minha filha... Ela está ali... Por favor! - Implorou.

- Não. - Seus olhos mudaram de supetão, não acreditava no que acabara de ouvir. - Eles querem a Jenny, sua filha os atraiu. Eles estavam quietos até agora. Eu os prendi ali, para não ter problemas.

- Não pode estar falando serio... - Sem pensar uma segunda vez, sua mão fechada como pedra viajou na direção do rapaz, o mesmo caiu no piso da sala com um baque abafado. - ABRA AGORA! - Ordenou. Incrédulo Lancey foi em direção a porta e a destrancou.

- Se quer tanto ir lá fora... Vá e fique lá. - Se afastou.

- Desgraçado. - Correu em direção a porta, e quando ela se abriu, Rachel estava correndo na direção oposta a porta, enquanto os caminhantes a seguiam a passos lento. - Rachel! Volte! - Correu em direção a filha, lançando um ultimo olhar a Lancey. Escutou a forte se trancar, e viu Rachel parada ao fundo do pátio, espremida contar a grade. Sua mente estava em branco, e seus pés ligeiros. Alcançou o casal antes mesmo de perceber o que estava fazendo. Puxou os cabelos ruivos da menina para trás, enquanto o rapaz continuava a caminhar. Com força a jogou no chão. A menina olhava-o com seu rosto ferido de mordida na bochecha. Sangue escorria por sua boca, e seus olhos eram calmos. Agarrou as laterais da cabeça com os dedos enrijecidos, e então a bateu contra o cimento. Uma segunda vez o movimento se repetiu, e quando se deu conta, já havia repetido o movimento mais de oito vezes. Sangue se espalhara em sua mão, e o chão estava totalmente salpicado de rubro. Soltou-a ao perceber seu rosto quieto. Olhou suas mãos manchadas com uma carreta.

            O grito de Rachel o despertou mais uma vez, e então virou-se de imediato em sua direção. A menina tentava subir a grade em desespero. Apareceu como um fantasma atrás do rapaz, seu rosto sério era frio. Inexpressível. Puxou o ombro de Luccas para o lado, tirando-o da direção da filha. Seu pé voou no peito do moribundo. Assim como fazem em filmes de ação. O corpo tombou no gira-gira colorido, rangendo e girando o rapaz, que caia de costas para Eric. O bico do sapato do encanador acertou em cheio a lateral do rosto desfalecido. Sem hesitar, esmagou com o direito pé a cabeça do jovem contra o chão. Pisoteou pelo menos seis vezes, até sua filha abraçar sua perna em desespero. Olhou em fúria para baixo. Rachel chorava, sentia-a tremer freneticamente.

- Rachel... Minha pequena. - Chorou agachado, segurando os ombros de sua filha, olhando-a profundamente nos olhos. - Pensei que iria te perder... Papai não vai mais te deixar sozinha, eu prometo! - A menina soluçava.

- Papai, eu estou com tanto medo. - Viu novamente o terror em sua filha, e lembrara de quando a viu indiferente frente a carnificina. No fundo, estava com tanto medo quanto ela. - Eles tentaram me... - A voz da criança foi cortada por um barulho ensurdecedor.

"BANG!"
            O som ecoou pelo lugar, e Rachel soltou-se de sua mão. Rachel tombou para trás. Seus olhos apavorados observaram lentamente ela caindo, sua boca misturou se em pavor e agonia, aberta, porém, nenhum som era ouvido.


Rachel atingiu o chão, o som era abafado. Ela não se mexia. Tudo a sua volta parecia se mover em câmera lenta. Até mesmo as gotas de suas lagrimas, misturadas a chuva que acabava de cair...

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Sinfonia dos Aflitos, Capítulo 4: Sozinhos...

            A mente do Encanador naquele momento havia se esvaziado, ele apenas observava a terrível cena bem a sua frente, assim como uma estatua assiste os dejetos soltos pelas aves virem em sua direção sem poder fazer nada. Não conseguia mover o seu corpo, ou pelo menos imaginava que não. A mão de sua filha Rachel fez com que ele despertasse para o mundo real, obrigando-o a voltar para aquele inferno. A mão frágil e gélida da garota suava frio ao tentar apertar com toda sua força a imóvel mão de seu pai. – Papai… Pa-papai… Os monstros… – Aquela voz perturbada e falhada ecoou em sua mente. A inocente voz da menina abalou seu coração, criando uma balada de emoções dentro de seu peito. Ele não poderia assistir sua pequena garotinha ser devorada até os ossos pelos mortos ambulantes, porém, o que ele poderia tentar fazer para impedir?

            Quando a esperança começava a sumir de seu coração, uma forte luz vinda do lado esquerdo da rua fez com que diversas criaturas fossem jogadas para longe. Completamente sem reação, bem a sua frente ele conseguiu avistar um carro militar passando sobre os corpos degenerados dos mortos que ousavam caminhar, mesmo depois de tirarem suas vidas. Meio a luz uma voz forte foi escutada, ela vinha do carro que acabara de salva-los da morte certa.


- Rápido! Vocês três, entrem aqui! – A voz havia sido clara, não deveriam passar nem mais um instante parados naquele lugar. Os três nunca foram tão rápidos correndo até um automóvel, nem mesmo em dia de chuva. Dentro do carro militar de coloração esverdeada, puderam notar apenas dois homens em seu interior, o soldado que guiava e o seu companheiro. O soldado que estava na direção acelerou bruscamente para escapar do castelo dos horrores que ali havia se tornado. Ele cortava o máximo possível entre as vias e os automóveis abandonados. O homem no passageiro virou sua atenção para Eric, Rachel e Kurt.


- Algum de vocês encontra-se ferido? – Indagou duvidoso em um tom bastante serio, assim como um verdadeiro soldado deve ser. Todos os três balançaram suas cabeças de forma negativa, sem produzir nenhum barulho. Continuou. – Algum de vocês esta portando equipamentos eletrônicos, como maquina fotográfica, celular, gravador, ou câmera de vídeo? - Interrogou ainda mais serio os três passageiros, porém, a mesma resposta negativa foi produzida por eles, criando um ar de duvida na mente do encanador.


            Eric achou aquelas perguntas um tanto estranhas, mas não deu a devida atenção para aquele assunto, pois se sentia aliviado em estar a salvo. Apertava sua filha meio aos braços quando o carro adentrou um enorme pátio aberto com uma extensa cerca ao centro, onde quinze soldados armados com fuzis encontravam-se exatamente do lado de fora aparentemente guardando as diversas pessoas que encontravam-se no seu interior. Assim que o carro se aproximou da enorme grade metálica, os gritos das pessoas tornaram-se audíveis, muitas delas gritavam por socorro, usando frases como “Nos tirem daqui.”, “Eu quero sair daqui.”, entre outras. Pararam justamente ao lado da entrada do cercado que era protegida por dois guardas. O soldado que havia feito o interrogatório apontou seu fuzil contra as três pessoas pousadas no banco de trás, desta vez proferindo frases muito mais agressivas. – Rápido, quero vocês três fora do carro… Entrem ai dentro! – Eric e Kurt se impressionaram com a mudança de comportamento do militar, obrigando-os a entrar no cativeiro improvisado, cheio de pessoas desesperadas e sofrendo. Os três desceram do carro com muita calma, um ajudando o outro sem fazer qualquer pergunta. O mesmo militar sem pronunciar qualquer aviso prévio, começou a revistar e retirar qualquer pertence em pose dos três, até mesmo seus documentos e carteiras haviam sido recolhidos. Em seguida já se viam obrigados a entrar na prisão comunitária, onde a solidão apenas aumentava graças à enorme quantidade de pessoas gritando por socorro, ignorando que outros indivíduos também partilhavam da mesma agonia, demonstrando que em um momento difícil o ser humano apenas pensa em sua própria proteção.


            Eric agarrou sua filha no colo e correu em direito a uma folga entre uma pessoa e outra, chegando perto de um dos militares que vigiavam o cercado.


- Por favor… Você, por favor. – Não conseguia nenhuma resposta. – Senhor, por favor… Eu estou com minha filha, quero saber o que esta acontecendo. – O soldado não mostrava indícios de querer conversar. – Estou te implorando, por minha filha. – Ao ouvi-lo discretamente voltou sua atenção ao protagonista, talvez com receio pela situação que se encontravam, ou talvez pela própria garotinha com medo. O homem olhou para os dois lados e então virou parcialmente o seu corpo de encontro a grade, dando a entender que estava apenas observando o outro lado do continuo cercado.


- Vocês todos se encontram em quarentena militar, nos não podemos deixar ninguém livre correndo o risco de infectar mais civis. Ainda estamos aguardando ordens superiores para sabermos o que fazer, até lá vocês deveram ficar ai dentro. – Eric não havia entendido perfeitamente suas palavras graças o barulho que as demais pessoas produziam, mas entendeu a seriedade do assunto… Era provável que algumas pessoas dentro da “proteção” ainda estivessem em fase de mutação, ou seja, se tornando uma das criaturas canibais que se alimentavam das pessoas que ainda possuíam vida em seus corpos.


- Mas que Merda! – Praguejou indo de encontro a Kurt que estava escorado a grade, possivelmente descansando seu corpo e tentando colocar sua mente em ordem. Eric sentia a tensão transbordar pela orbita dos olhos de seu amigo, sabendo que ele agora era como uma bomba relógio apenas esperando o último “tic-tac” para finalmente cumprir o objetivo de sua existência, explodir.


- Cara… Você esta bem? – Indagou curioso observando seu companheiro de fuga, que apenas retribuiu com um breve olhar tristonho. – Temos que tomar cuidado… Acho que mesmo aqui dentro não estamos seguros. – Recostou-se também contra a gélida grade, sentindo os pelos de seu corpo arrepiarem-se pela baixa temperatura, graças ao ambiente aberto que tornava tudo aquilo uma terrível geladeira natural. Apertou sua filha contra o corpo, tentando passar o natural calor humano para a pobre criança. Observava à fumaça produzida por sua respiração, notando ainda os incansáveis pedidos das pessoas ao implorarem por suas liberdades. Apenas agora começou a cair a ficha do porquê daquelas pessoas estarem pedindo com tanto alvoroço para saírem dali. “Merda… Estamos perdidos!” entendia a situação. Observou que sobre a extensão do enorme pátio algumas pessoas se encontravam deitadas em pleno sereno, com seus corpos encolhidos, assim como um mendigo ao tentar se aquecer em um noite fria de inverno. 

“A friagem irá matá-los mais rápido… É obvio que aqui dentro ainda tem pessoas doentes!”, tentou imaginar até quando elas permaneceriam deitadas, ou se elas realmente estariam infectadas. Ainda tentando pensar notou que a iluminação produzida pelos holofotes começou a piscar freneticamente. Aquilo fez as impacientes pessoas começarem a entrar em desespero, todas elas pareciam completamente loucas.


            Um soldado, trajando sua farda se aproximou da grade, em mãos uma extensa mangueira de bombeiro. Com apenas um sinal, o jato d'água começara a jorrar. Pessoas começaram a sair da grade, procurando abrigo ou se esconder dos jatos. O encanador e seu grupo se encolheu, molhados, porém, a água cessara. Por que haviam molhado todos? Seria uma prevenção para a descontaminação? Para afastar as pessoas da grade? Para acalmá-los? Ou para no frio, todos morrem?


- E eu imaginando que isso não poderia piorar… – Ouviu ao seu lado a voz triste de Kurt. O encanador voltou sua atenção para a extensão do pátio, quando notou que algumas das pessoas deitadas começaram a lentamente se levantar. Não conseguiria ouvir se estavam gemendo graças à euforia que havia tomado a prisão, ou por algo pior. Toda aquela cena parecia mais um maldito filme de terror: pessoas que deveriam estar mortas perambulavam lentamente com seus olhares vazios em direção de suas indefesas vítimas, encurralando-as contra uma grade tão fria quanto à noite. A luz piscava freneticamente, aumentando o pavor das pessoas ao perderem parcialmente suas visões graças à iluminação falha. As imagens melancólicas dos mortos sumiam e apareciam mais próximos de suas carnes, produzindo um terror absoluto em sua mente, perturbando sua consciência ao saberem que sua morte caminhava de forma lenta e irrevogável. Tudo parecia perdido a cada segundo que passava, a cada momento que as mandíbulas assassinas se aproximavam mais de suas vidas, a cada segundo…


- Droga venha Rachel! – Eric puxou sua filha com força ao notar as primeiras gotas de sangue serem esguichadas com gosto pelas veias rompidas dos corpos humanos ao terem a carne dilacerada. Os primeiros gritos de desespero começaram a ser produzidos pelas vítimas ao sentirem sua carne sendo mastigada ainda presas ao corpo, percebendo que a agonia apenas começara, e seria prolongada.


            O encanador começou a correr as cegas para longe do massacre. Conseguia ouvir os pavorosos gritos de agonia, a cada passo que dava em direção ao desconhecido. Kurt vinha logo atrás em passos alucinados tomados pela beira da loucura ao presenciar aquela chacina em massa. Sua mente perturbada o fizera tropeçar e cair três vezes antes de se aproximar do homem e sua filha. Em instantes encontravam-se juntos a uma grade, gritando para os soldados que apontavam aleatoriamente seus fuzis para o interior da prisão.


            Então a escuridão tomou conta do lugar, os holofotes finalmente faleceram. A única iluminação no ambiente era a luz natural produzida pela lua, que era parcialmente coberta pelas nuvens da noite. Mais a frente era possível ver a sombra das pessoas desesperadas correndo de um lado para o outro, e os flashes dos disparos viajando direto para o interior da substituída prisão, aquilo havia tornado-se um cemitério. 


            Os três rapidamente se abaixaram procurando proteção dos disparos. Eric observava o semblante do grande número de pessoas tentando pular a grade de “proteção”, enquanto os soldados buscavam impedir que conseguissem. Conseqüentemente a grade se rompera, despencando com brutalidade e ferindo muitas pessoas com seus arames farpados. Em frenesi de pavor as pessoas começavam a correr aleatoriamente para os lados, enquanto algumas atacavam os guardas, e outras caminhavam sobre a abertura que acabara de ser criada com esperança de fuga. O encanador notou que pelo menos um terço das pessoas caminhando sobre a grade não possuía o caminhar natural de um ser humano, distinguindo então os mortos ambulantes que agora haviam tomado um maior número entre aquelas pobres presas desesperadas.


- Fiquem quietos, por favor… – Eric olhou o rosto pouco iluminado de sua filha, notando uma triste expressão de espanto enquanto ela observava a cena como um cinema, assistindo varias pessoas serem devoradas, enquanto outras tentavam resistir a inevitável morte que as aguardava, algumas buscavam correr para lugares escondidos pela noite, tentando esconder suas presenças das criaturas lá fora.


            Apenas um único pai parecia realmente preocupado. – Xiiii, não olha filha, olha pro papai, olha pra mim… – Colocava sua mão sobre a face da garota. Sabia que não deveria demorar nem mais um segundo naquele cenário macabro, pois ali seriam alvos fáceis. A primeira coisa que fizeram foi levantar e partir em uma corrida ziguezagueando entre os corpos aparentemente mortos no solo umedecido pela água, assim como tentando desviar dos ambulantes que ainda se encontravam mais atrás do tumulto. Conseguiram passar despercebidos, graças ao grande número de pessoas que ainda combatiam os mortos-vivos, ou que ainda eram dilacerados pelas mandíbulas manchadas dos ambulantes.


- Por aqui… – Pronunciou Kurt com uma voz baixa ao puxar bruscamente o braço de Eric levando-o em direção a um prédio de quatro andares sem iluminação a alguns metros de distancia entre a cerca tombada a direita. Notaram que as pessoas corriam na direção oposta, porém, imaginaram que isso era graças à euforia do momento. Seus corpos se chocaram contra a pesada porta dupla do prédio, a mesma nem mesmo se movera.


- Droga ela esta fechada Kurt… Devemos ir para outro lugar. – Puxava seu amigo a direção oposta quando ele o impediu de continuar. O homem olhava para a face escura – graças à noite. – de seu companheiro tentando entender o porquê dele ter o impedido de continuar.


- Não… Vamos entrar aqui dentro. Não acho que outro lugar seja seguro… Seja lá o que os Militares estavam guardando ele deve estar aqui dentro, sendo assim aqui deve ser seguro. – Não sabia o que estava dizendo, apenas tirara conclusões pelo que havia imaginado em sua mente perturbada, porém, Eric não sabia o que fazer como também não sabia para onde ir. Kurt correu pela extensão do prédio procurando encontrar alguma abertura para que pudessem adentrar a residência. Notou que quase todas as janelas do primeiro andar estavam bloqueadas por pranchas de madeira que impediriam que qualquer coisa entrasse ou saísse. Apenas uma única janela se encontrava desprotegida do bloqueio improvisado. Sem demora o homem pegara um pedaço de madeira que encontrara no chão e partira para destruir o vidro e então abrir um caminho para o lugar que supostamente acreditava ser seguro.


            Ainda em frente à porta Eric começara a reconhecer o ambiente que o rodeava, mesmo estando no escuro conseguira distinguir o lugar a sua volta, e por final descobrir o lugar que estavam prestes a invadir. Este era o único hospital da cidade, local de amparo das vitimas da gripe. Quando isso veio a sua mente um baque agudo de vidro sendo quebrado fez seus pensamentos desaparecerem, e logo em seguida Kurt viera correndo em direção do encanador.


- Rápido consegui achar uma entrada, quase todas as janelas estavam bloqueadas, mais uma delas não estava… Vamos! – Era visível em seus movimentos a excitação e alegria que o homem sentira ao se iluminar com falsas expectativas. Mesmo não entendendo o porquê de sentir em sua mente certa desconfiança o homem seguiu seu amigo guiando sua filha de encontro à janela quebrada. Foram até a parte traseira do prédio para chegarem ao lugar onde Kurt havia quebrado o vidro, o corredor era estreito, com uma pequena escadaria lateral que levara a uma porta metálica. Encontraram algumas caçambas de lixo encostadas sobre a parede. A janela estava muito próxima da escadaria, o que facilitaria sua entrada no prédio.


- Esperem tive uma idéia! – O homem pálido de cabelos escuros como seus olhos demonstrava-se ainda mais feliz. – Não acha melhor eu entrar primeiro e abrir esta porta para vocês? – Apontara para a escadaria e a porta metálica. – Caso não tenha como eu volto eu o ajudo a entrar. Será melhor e menos perigoso para sua filha. – Olhou rapidamente para a menina, brotando um sorriso estranho em sua boca, voltando logo sua atenção para Eric.


- T-tudo bem… – Respondeu sem ter certeza do que deveria falar. O encanador começou a notar a expressão de seu amigo mudar completamente, de apavorado para excitação e alegria completa.


            Acompanhou com o olhar seu amigo correndo em direção a janela, pulando-a rapidamente, adentrando a escuridão sem fim no interior do hospital. Seguiu por alguns instantes em silencio. Mas logo ouvira o barulho de uma porta se destrancar no interior do prédio enquanto caminhava lentamente junto a sua filha de encontro à pequena escadaria. Seus ouvidos estavam ligados no que acontecia dentro do edifício, quando ouvira um grito e fortes baques de passos dentro do lugar. Não podia ver o que estava acontecendo, apenas conseguia ouvir os diversos “Ai meu Deus…” ecoando em todo o ambiente. Antes da imagem de seu amigo aparecer pela janela ele ouvira uma frase diferente pronunciada pelo homem. – Me larguem seus filhos da puta! – O grito fora proferido em pura fúria instantes antes do homem se projetar frente à janela com diversos braços em degeneração tentando puxá-lo de volta, o mesmo tentava se jogar para fora do edifício. Eric viu a imagem de seu amigo lutando para sair do lugar, e a terrível expressão de medo que tomava conta de sua face. – Me ajuda… Por favor! – Sua voz sendo abafada pouco a pouco implorando pela ajuda, enquanto o encanador simplesmente não pudera fazer nada, seu corpo imóvel não demonstrava nem sequer indícios de que pretendia ajudar o companheiro no embate por sua vida. – Você… Por quê? – Foram as ultimas palavras ouvidas antes de assisti-lo ser puxado por completo para dentro do lugar, o barulho frenético de mandíbulas e braços se debatendo eram ouvido claramente. Ele não podia se culpar, não havia o que fazer. O homem já estava condenado, entendia isso, sua sanidade estava na beira do precipício, pronta para mergulhas na maluquice completa. “O que eu poderia ter feito?” ao notar mãos sendo erguidas, agarradas a beirada da janela, revelando uma quantidade enorme de amaldiçoados procurando sair do lugar, entendeu a desconfiança que sentia em seu peito. 

"Que lugar poderia guardar um maior numero de monstros do que um hospital? A maioria das pessoas que estavam doentes procurou o hospital, morreram em seu interior, e continuaram por lá até agora."


            Alguns corpos começaram a despencar sobre o chão, produzindo gemidos próximos ao de sofrimento, ou dor. Eric se virou para a direção oposta do lugar, caminhando de volta ao lugar onde se encontrava a tombada prisão dos mortos. Quando se aproximou do lugar notou corpos abaixados, corcundas, ao se deliciar com a carne morta dos corpos recém abatidos. O lugar permanecia em um silencio total, sendo preenchido apenas pela sinfonia dos aflitos, pela canção dos condenados a vagar eternamente no sofrimento sem fim.




O homem observou a face de sua garotinha, notando um rosto inexpressível frente aquela maldita situação. Sentiu uma tristeza enorme em seu peito ao notar que sua inocente filha havia se acostumado com toda aquela carnificina. Agora, estavam sozinhos…

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Sinfonia dos Aflitos, Capítulo 3: Inferno!

            As palavras de sua filha ressoaram em sua mente, fazendo seu coração ser bombardeado por um temporal de emoções. Ele tinha certeza que ao colocar o corpo de sua mulher no chão, a vida já havia abandonado seus olhos. Voltou sua atenção para a direção apontada por Rachel. Esta visão fez o encanador sentir calafrios dos pés a cabeça. Sentia o frio dominar sua barriga, não um frio natural produzido pelo mal tempo, mas sim aquele frio que sentimos apenas quando vemos, ou escutamos algo que nos faz entrar em puro estado de choque. Era exatamente assim que ele se sentia, em puro estado de choque.

- N-Não… Não pode ser… – Lagrimas escorriam pelo seu rosto tomado por tristeza. Não sabia se aquela pessoa a sua frente era realmente a mulher que sempre amou. Alguma coisa muito parecida com ela se esforçava para levantar, com seu pescoço pendendo para o lado esquerdo, produzindo um gemido tão melancólico como o choro de uma mãe ao perder o filho. Maggie cambaleava tentando manter-se de pé, seus olhos muito brancos observavam Rachel e Eric a sua frente. O sangue gotejava no solo quando ela irrompeu de encontro a família.

- Papai, a mamãe não parece bem… Ela ta me deixando com medo! – A menina abraçou seu pai com força, olhando para o outro lado, evitando encarar o rosto de sua mãe tomado pela insanidade. Eric não tinha a coragem necessária para atirar no filho e na mulher, pelo menos não no mesmo dia, e na frente de sua querida Rachel.

- Filha… Vamos dar um passeio. – Começou a caminhar para trás conforme sua amada aproximava-se. Apertou o passo ao se aproximar da porta. Virou a chave, a porta produziu um barulho, mostrando que estava destrancada. Saiu para o lado de fora da casa, não demorando mais um segundo lá dentro. O dia já começava a entrar no seu entardecer. A neblina agora ganhava uma tonalidade alaranjada. Trancou a porta rapidamente, colocando seu revolver preso a cintura e a calça, encobrindo-a com sua camisa azul manchada pelo sangue de sua mulher.

            Eric observando uma rua completamente vazia. Vazia apenas de pessoas, a extensão da rua encontravam-se diversos carros com as portas abertas, muitos ainda ligados, outros batidos. Tentava imaginar o que havia acontecido, tivera alguma coisa haver com o que acontecera a sua família? Teria aquilo acontecido em outros lugares? Arrependera-se de não ter visto uma ultima vez a televisão de sua casa, para pelo menos ter uma noção do que estava acontecendo a sua cidade.

            Tomou um pequeno susto ao escutar uma batida na porta que acabara de trancar, imaginou sua mulher batendo na mesma, procurando abri-la para sair. Quando ouviu isso acabou por notar uma breve movimentação na casa a frente, seu vizinho Kurt saia às pressas de dentro da casa segurando uma bolsa mediana preta. Ao notar que Eric estava do outro lado da rua com sua filha no colo, correu de encontro a ele ofegante.

- Eric… O que esta fazendo ai parado? – Perguntou como se o encanador estivesse fazendo algo muito errado. – Você não viu nada? Esta tudo um caos… – Parou olhando para o rosto completamente perdido do homem e sua filha.

- M-Me desculpe, mas não estou entendendo… – Tentou fingir que não tinha visto, nem ouvido nada. – Meu filho esta doente, precisa de remédios. – Coçou a garganta, assim como muitas pessoas fazem ao mentir.

- Droga cara, se for pela gripe é melhor deixá-lo ai… As pessoas estão morrendo, e de alguma forma voltando à vida! – Disse indignado. – Mas isso não basta, elas estão comendo as pessoas como canibais… Eu me escondi dentro de casa até tudo se acalmar. Tudo começou hoje de manhã… Não acredito que você não ouviu nada. – Falou com um tom ainda maior de indignação. – Espera… Eu ouvi o barulho de tiro vindo da sua casa… E sua camisa esta manchada de sangue. – Apontou para a camisa azul manchada. Eric observou o vizinho, tentando manter a calma. Ao menos agora tinha certeza que aquilo não havia acontecido apenas a sua família.

- Esta bem… Meu filho estava doente… De alguma forma ele virou um tipo de… Zumbi… Não sei direito. Então ele mordeu o pescoço da Maggie, ela morreu nos meus braços… Ainda vejo a imagem dela na minha frente. – O barulho da porta foi ouvido novamente. – Ela então acordou. Agora ela esta batendo na porta querendo sair… Não pude atirar nela! EU NÃO PUDE CARA! – Alterou sua voz com a raiva que sentia dentro do peito. Kurt levou o dedo até a boca mandando Eric ficar em silencio.

- Não grita… Pode ter mais deles dentro de algumas casas. Você foi mordido? – Perguntou, recebendo sua resposta com o balanço negativo da cabeça do homem. – É melhor a gente ir para outro lugar. Estou indo para a delegacia ver se tem alguém por lá. Venha comigo… Er… Você esta armado? – Eric desta vez balançou a cabeça em sinal de afirmação.

- Muito bem, vamos indo em silencio, me siga. – O encanador acompanhou no mesmo ritmo o seu vizinho, buscando manter o silencio. Ao longe, Rachel viu a janela de sua casa ser quebrada, e a imagem de sua mãe tombar para o exterior da residência, novamente ela se levantou, atordoada, procurando por alguma coisa, talvez o que morder. Aos poucos, eles se distanciaram.

            A caminhada prosseguiu de forma um tanto rápida, cortando caminho pelas beiradas das casas, buscando evitar os lugares mais abertos onde seriam vistos facilmente. Conforme se aproximaram do “centro” da cidade, onde se encontrava o departamento de policia, começaram a notar a movimentação de algumas pessoas, elas caminhavam bem lentamente com seus corpos completamente relaxados. O manto negro da noite já começava a cobrir a cidade, criando uma escuridão desesperadora. A fraca luz dos postes de energia não iluminava completamente a cidade, porém, ajudava bastante na visualização. O ambiente completamente tomado pelos “mortos-vivos” ficara ainda mais aterrorizante com o cair da noite, tornando a cidade um verdadeiro inferno obscuro.

            O chão da cidade começou a ser florido com os corpos que jaziam meio as ruas, corpos realmente mortos, diferentes daqueles que estavam caminhando sem rumo no escuro. Muitos desses corpos encontravam-se mordidos, outros com membros faltando, pintando a rua de vermelho e fazendo os seus passos serem marcados pelas pegadas escarlates. Eric apertou a cabeça de sua filha contra o peito, dizendo no seu ouvido bem baixo para ela fechar os olhos e abrir somente quando ele mandasse. A esperança começava a desaparecer da mente de Eric, não tinha mais certeza de que continuariam vivos após algumas passadas a mais. Sabia que devia sobreviver, não deveria deixar Rachel sozinha em um mundo repleto de estranhos querendo abocanhar suas entranhas até tirar sua vida por completa. Uma menina daquela idade não merecia viver meio aquilo. Sentia-se mais triste agora, não sabendo se conseguiriam escapar, não sabendo se conseguiria manter sua filha a salvo, porém, ele sabia que não iria deixá-la morrer, faria qualquer coisa para manter ela viva, daria sua própria vida se isso garantisse a sobrevivência de Rachel. Teria que sobreviver, iria sobreviver…

            Suas pernas já começavam a se cansar, Kurt ofegava. Suas respirações produziam fumaça, e foi nesse momento que notou e deu por falta de um casaco, tanto para si, quanto para sua filha. A menina tremia meio aos seus braços. Apertava a menina contra o corpo tentando aquecê-la.

- Espere… – A voz de Kurt cortou o silencio, sua mão estava informando que deviam parar. – Escuta! – Falou baixo para ouvirem ao longe um barulho muito familiar. Começaram a caminhar devagar de encontro ao som que a cada passo começava a ficar mais alto. Finalmente o barulho foi confirmado. Eram sons de disparos feitos por armas de fogo. Não era apenas produzido por uma arma, mais sim no mínimo dez delas. Quando deram por si, estavam muito próximos do lugar dos disparos, ao longe conseguiam ver luzes muito fortes, e os disparos contínuos não cessavam. Alguns minutos depois se encontravam frente a um pequeno batalhão do exercito tentando conter o avanço de uma horda daquelas criaturas que antes possuíam sentimentos humanos. Assim que um dos soldados avistou Eric, Kurt e Rachel o mesmo correu de encontro a eles.

- Cuidado, estão vindo cada vez mais dessas coisas… – Proferiu um homem de voz grossa portando um fuzil negro em mãos. – Foram mordidos? – Negaram. – Então venham comigo. Não tem mais ninguém? – Balançaram a cabeça em negação, um pouco atordoados pelos sons dos disparos. O soldado começou a correr na direção de dois grandes holofotes que mantinham os soldados com visibilidade para atirar. Ao passarem por eles, suas visões falharam por alguns instantes, se encontraram de frente com uma pequena escadaria, com suas visões agora mais claras começaram a subir, adentrando em um estabelecimento com boa iluminação onde viram no mínimo setenta pessoas sentadas, caminhando, observando a cena lá fora. Era de fato uma base improvisada para os sobreviventes.

- Vocês estarão seguros aqui dentro. Estamos esperando reforços, então não saiam até que esteja tudo limpo! – Ordenou o homem ao voltar correndo para o campo de batalha. Eric colocou Rachel no chão aliviado do peso que carregara por um longo tempo. Segurava sua pequena mão enquanto caminhava de encontro a Kurt que descansava sentado no chão.

- Obrigado por deixar a gente acompanhar você cara… Ainda bem que nos encontramos… Não saberia o que fazer no meio daquela rua. – O homem sorriu recuperando o fôlego.

- Esta tudo bem, agora nos estamos seguros. – Afirmou abrindo sua bolsa, pegou de seu interior uma pequena garrafa d’água que levou até sua boca com grande prazer, deliciando-se com cada golada. Observou as pessoas ali presente, notando que algumas delas os observavam. Provavelmente estavam tentando identificá-los na esperança de ser algum familiar, ou conhecido.

            Rachel sentou no colo de seu pai quando este se encostou a uma cadeira com uma fofa almoçada presa a ela. Relaxou na cadeira tentando afastar a face de Maggie e Tommas de seus pensamentos. Não conseguia, os tiros o traziam de volta aquele inferno. Sabia que não tinha tempo para ficar triste, precisava manter sua filha segura. Não poderia ser fraco naquele momento terrível, deveria ser forte, mais forte do que todos ali juntos. O único problema é que não se sentia assim…

            Todos ali eram estranhos para Eric e Kurt, não conseguiram identificar nenhuma pessoa conhecida. Conversavam distraídos no interior daquela base, sem saber o que acontecia no seu exterior. Os soldados combatiam os “Zumbis” com todas as forças, porém, mais e mais deles continuavam a aparecer, e a munição continuava a diminuir cada vez mais rápida. Não importava o quanto atirassem muitos deles continuavam a se levantar, ou rastejar. O reforço não chegava, e o tempo para eles, ficava cada vez mais curto.

            Os disparos continuavam a ser escutados lá fora quando uma pequena horda adentrou o lugar, muitas das pessoas começaram a gritar, corriam desesperadas, era possível ver algumas saltarem pelas janelas abertas na esperança de conseguir fugir. Eric apertou sua filha com força nos braços e disparou na direção de uma sala com a porta aberta. Kurt o seguiu, correndo como nunca tinha corrido. Era possível escutar pessoas gritando socorro ao serem mordidas pelas criaturas, enquanto outras eram mordidas tentando combatê-las com os punhos ou com o que encontravam pela frente, desde livros a cadeiras.

            Ao entrarem na sala fecharam a porta com força, colocando rapidamente uma mesa frente à porta na esperança de mantê-la fechada. O lugar era pequeno, um simples escritório, com uma janela ao fundo. Eric correu em sua direção colocando sua filha no chão. Não estavam longe do chão, mais ou menos dois metros do gramado abaixo. Estava escuro lá fora, um pequeno beco entre um “prédio” e outro. Ao longe dos dois lados dava-se para ver a luz da rua.

- Acho melhor a gente tentar, se ficarmos aqui eles vão acabar entrando… – Disse Eric confiante agarrando novamente sua filha. – Kurt eu vou descer primeiro, então você passa Rachel para mim. Tudo bem? – Kurt confirmou eufórico. Foi em direção a janela e começou a descer buscando o chão com seus pés. Em seguida Curt passou Rachel para ele, então jogou sua pequena bolsa e logo foi sua vez.

- Acho que para aquele lado esta cheio deles. – Apontou para a direção de onde haviam chegado, onde a luz era mais forte graças aos Holofotes. – A única direção que temos é essa outra… Melhor irmos com cuidado. – Pegou na mão de Rachel caminhando lentamente na direção contraria da que tinham chegado. No fim do beco, a rua estava vazia, agradecerão por não ter encontrado nenhuma criatura.

- Obrigado… - Falou aliviado. - Agora vamos para onde? – Olhou para Kurt que estava pasmo ao observar alguma coisa à esquerda. Quando Eric olhou para aquela direção viu em outra pequena escadaria uma enorme quantidade de pessoas deitadas enquanto outras arrancavam seus membros e órgãos com as mãos, ou a mordidas, deliciando-se com seus órgãos ainda quentes. Lentamente uma das criaturas se levantou dali, segurando um braço rente à boca, ainda mastigando-o. Seus olhos sem vida brilharam ao notar a presença de Eric e os demais. O gemido da criatura ao largar aquele braço foi longo e profundo, o que fez as demais criaturas voltarem suas atenções para Eric, Rachel e Kurt. O aviso estava dado, mais carne os esperava…

Os olhos do encanador abandonaram seu brilho de esperança, ele apertava forte a mão de sua filha, enquanto seus olhos eram tomados pelo terror… Percebera então que realmente estava no inferno…